O Segundo Post

Posted by acuraparadepressao On Sunday 27 October 2013 0 comments




Olá, tudo bem? Já faz algum tempo que não colocava aqui os pés. Na verdade, após escrever o texto publicado no dia 5 de Agosto de 2011, não voltei mais. Hoje, passados mais de dois anos, ressurgi. Para a minha surpresa, aproximadamente 700 pessoas passaram por aqui nesse entretanto. Isso fez-me pensar, e sem saber explicar a razão acabei com a sensação de que devia alguma satisfação a esses visitantes.

O texto escrito em 2011 foi mais uma forma de desabafo, dirigido a pessoa nenhuma, num momento em que me encontrava completamente perdido. Tinha conseguido, por esforço próprio e um grande apoio emocional da família, todas as coisas que sempre desejei da vida: viajar por diversos países, estudar na melhor universidade do mundo, conhecer pessoas diferentes, culturas diversas. Tinha tudo isso, mas estava incrivelmente triste e não tinha a mínima noção do porquê.

O meu preconceito em relação a antidepressivos impedia-me de toma-los. E enquanto isso a ansiedade que sentia aumentava, o sono tinha desaparecido completamente e a vida, que sempre fora tão boa e fluida, deixou de fazer sentido. As noites não dormidas afetaram a minha capacidade de concentração. O trabalho rendia pouco, o mau humor crescia a cada dia e, numa forma estranha de pedir socorro, afastei-me das pessoas mais próximas. Na verdade, talvez movidas pelas minhas constantes oscilações de humor, pessoas próximas também afastaram-se de mim. E algumas, mesmo passada a tempestade, desapareceram numa via de mão única.

No dia 6 de Agosto de 2011 as coisas mudaram. Por não ter tido coragem de tomar o comprimido no café da manhã, decidi me ocupar com alguma coisa no departamento onde trabalhava. Mas aí chegou a hora do almoço. Fui a um japonês recém inaugurado e comprei um combinado de sushi e sashimi. Levei-o à tea room (como eles chamam em Inglaterra a área reservada para lanches) do departamento, que se encontrava vazia por ser fim de semana. Sentei-me e na mesa à minha frente coloquei de um lado o comprimido e do outro a comida. E pensei. Pensei muita coisa. A mente de uma pessoa em depressão não para nunca. Naquele momento eu era certamente capaz de pensar em dez coisas diferentes. Todas elas dramáticas, todas elas muito negativas. Por que deixei as coisas chegarem aquele ponto? Por que não conseguia controlar o que sentia? Por que não havia ninguém comigo naquele momento para tornar as coisas mais fáceis? Por que eu tinha me tornado uma pessoa tão fraca? Foi aí que percebi que não podia mais comer o sushi. Sem me dar conta, tinha me inclinado sobre o prato de comida aos prantos. Não lembro se cheguei a soluçar, mas as lágrimas que escorriam e a ranha pegajosa que saía do meu nariz tinham revestido cada peça de salmão e os bolinhos de arroz. Aquilo não era normal e sem pensar duas vezes pus para dentro aquele minúsculo comprimido, juntamente com o orgulho e todo o medo que sentia.

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