Melhorando

Posted by acuraparadepressao On Monday 28 October 2013 3 comments



Tomava os comprimidos de Citalopram 20 mg diariamente ao café da manhã. Os primeiros dias não foram fáceis.

Na primeira semana sentia-me ainda mais angustiado. Um peso enorme sobre o peito e uma vontade de correr e nunca mais parar. Mas não me deixei afetar por essas sensações. No início do tratamento ouvi do médico que  “it gets worse before it gets better" (a coisa piora antes de melhorar). Ele só não soube mesmo prever a duração da fase ruim. E sem ter uma data para o fim da minha agonia, agarrei-me àquelas palavras como um devoto agarra-se às palavras da salvação.

Demorou um tempo para que sentisse alguma melhora. Na verdade, demorou bastante e diante de alguns problemas, tive que procurar o médico. Ao fim de duas semanas de tratamento, o meu apetite desapareceu por completo. Não conseguia sequer olhar para um prato de comida. Mastigar e engolir tornaram-se verdadeiras torturas. Mas foi apenas quando constatei que tinha perdido 8 quilos que fiquei realmente preocupado.

Tive a minha dose reduzida pela metade e após uma semana, lentamente, a vida voltou a fazer sentido.


O Segundo Post

Posted by acuraparadepressao On Sunday 27 October 2013 0 comments





Olá, tudo bem? Já faz algum tempo que não colocava aqui os pés. Na verdade, após escrever o texto publicado no dia 5 de Agosto de 2011, não voltei mais. Hoje, passados mais de dois anos, ressurgi. Para a minha surpresa, aproximadamente 700 pessoas passaram por aqui nesse entretanto. Isso fez-me pensar, e sem saber explicar a razão acabei com a sensação de que devia alguma satisfação a esses visitantes.

O texto escrito em 2011 foi mais uma forma de desabafo, dirigido a pessoa nenhuma, num momento em que me encontrava completamente perdido. Tinha conseguido, por esforço próprio e um grande apoio emocional da família, todas as coisas que sempre desejei da vida: viajar por diversos países, estudar na melhor universidade do mundo, conhecer pessoas diferentes, culturas diversas. Tinha tudo isso, mas estava incrivelmente triste e não tinha a mínima noção do porquê.

O meu preconceito em relação a antidepressivos impedia-me de toma-los. E enquanto isso a ansiedade que sentia aumentava, o sono tinha desaparecido completamente e a vida, que sempre fora tão boa e fluida, deixou de fazer sentido. As noites não dormidas afetaram a minha capacidade de concentração. O trabalho rendia pouco, o mau humor crescia a cada dia e, numa forma estranha de pedir socorro, afastei-me das pessoas mais próximas. Na verdade, talvez movidas pelas minhas constantes oscilações de humor, pessoas próximas também afastaram-se de mim. E algumas, mesmo passada a tempestade, desapareceram numa via de mão única.

No dia 6 de Agosto de 2011 as coisas mudaram. Por não ter tido coragem de tomar o comprimido no café da manhã, decidi me ocupar com alguma coisa no departamento onde trabalhava. Mas aí chegou a hora do almoço. Fui a um japonês recém inaugurado e comprei um combinado de sushi e sashimi. Levei-o à tea room (como eles chamam em Inglaterra a área reservada para lanches) do departamento, que se encontrava vazia por ser fim de semana. Sentei-me e na mesa à minha frente coloquei de um lado o comprimido e do outro a comida. E pensei. Pensei muita coisa. A mente de uma pessoa em depressão não para nunca. Naquele momento eu era certamente capaz de pensar em dez coisas diferentes. Todas elas dramáticas, todas elas muito negativas. Por que deixei as coisas chegarem aquele ponto? Por que não conseguia controlar o que sentia? Por que não havia ninguém comigo naquele momento para tornar as coisas mais fáceis? Por que eu tinha me tornado uma pessoa tão fraca? Foi aí que percebi que não podia mais comer o sushi. Sem me dar conta, tinha me inclinado sobre o prato de comida aos prantos. Não lembro se cheguei a soluçar, mas as lágrimas que escorriam e a ranha pegajosa que saía do meu nariz tinham revestido cada peça de salmão e os bolinhos de arroz. Aquilo não era normal e sem pensar duas vezes pus para dentro aquele minúsculo comprimido, juntamente com o orgulho e todo o medo que sentia.


Dia 0 - Citalopram 20 mg

Posted by acuraparadepressao On Friday 5 August 2011 2 comments

Pois é, cedi! Vou me unir aos milhões de deprimidos mundo afora que fazem a sua pausa diária para botar goela abaixo um comprimidozinho que os médicos prometem fazer maravilhas.
A minha história é longa e não quero ver ninguém chorando aqui com tanta desgraça, mas, abreviando a coisa, o drama é o seguinte:
Moro longe de casa há quase nove anos. Entenda-se longe como muito distante mesmo, tipo uma linha imaginária que começa no Nordeste do Brasil e termina em Cambridge na Inglaterra. Há uns anos tenho estado num estado, digamos, catatônico, que faz com que o meu humor fique inconstante e a ansiedade faça as vezes de minha melhor amiga.
Sempre fui contra o uso de remédios para depressão. Mas acontece que o fardo estava ficando cada vez mais pesado e hoje, após passar a madrugada numa bicicleta às voltas pela cidade, decidi ir ao médico e implorar por algo que acabasse com essa agonia. Ele disse “Ok” e “toma lá 28 comprimidos de Citalopram 20 mg para aprender”. Não achei que seria assim tão fácil. E quando a esmola é grande... a gente desconfia e vai dar uma fuçada na internet. E pronto, fez-se o meu inferno.
Eu que não sabia nada sobre antidepressivos, numa única tarde me tornei um quase (falei quase, ok?) expert no assunto. E, após ler alguns depoimentos de quem já usou o negócio, cheguei à brilhante conclusão de que tenho neste momento duas opções: continuar deprimido ou ficar impotente!
Tá bom, sem exageros. O remédio não provoca impotência, mas diminui a libido e pode retardar a ejaculação. Esses efeitos colaterais ocorrem “apenas” em seis por cento dos pacientes... mas é que já ganhei umas coisas na rifa.
Preocupado que estava de me tornar o unívoco de um padre sem vida sexual (sei que não são muitos), resolvi chamar um amigo para um café e falar sobre a minha desgraça. Não é uma amigo qualquer, claro está. É daqueles amigos que se preocupam com você enquanto todos os outros correram para longe sentindo-se ameaçados por aquela cumulonimbus que aparece no topo da cabeça dos que se deprimem.
Pois bem, esse amigo é casado e já usa o mesmo medicamento há uns anos. Garantiu que sempre compareceu aos serviço, e que nada foi afetado pelos químicos no cérebro. A dado ponto, como se eu não me decidisse pela cruz ou pela espada, olhou-me de frente e disse “Toma logo isso antes que a coisa piore. Se isso fugir ao controle haverá muito pouco que eu ou a minha esposa possamos fazer por ti”. Aquilo, na minha cabeça de deprimido, soou assim “Olha lá, esqueceste que tás sozinho aqui e sem ninguém para tomar conta de ti? Toma logo essa merda e seja feliz”.
Bom, vim pra casa e passei umas horas olhando para a caixa de comprimidos. Prometi incluir uma das tais pílulas de cor laranja no meu café amanhã, assim que acordar. Como não tenho sono e nada mais interessante para fazer, criei este blog.
Talvez devesse fazer um esforço para dormir antes que a ansiedade bata. Talvez deva passar a noite a saltar de um site para outro. Nunca se sabe o dia de amanhã mesmo.